
Doença de Parkinson
Prevalência
A Doença de Parkinson (DP) é uma condição neurodegenerativa crônica e progressiva, que afeta principalmente os movimentos do corpo. Ela ocorre por uma perda gradual das células nervosas que produzem dopamina, uma substância essencial para o controle motor fino e coordenado.
A doença é relativamente comum, especialmente em pessoas acima dos 60 anos. Estima-se que 1 a cada 100 indivíduosnessa faixa etária tenha Parkinson, embora também existam casos de início precoce, antes dos 50 anos. No Brasil, calcula-se que mais de 200 mil pessoas convivam com a doença.
Sintomas
Os sintomas principais da Doença de Parkinson são conhecidos como “tétrade clássica”:
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Tremor de repouso – geralmente inicia em uma das mãos, com movimento rítmico de “contar moedas”;
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Bradicinesia – lentidão dos movimentos, dificuldade para iniciar ações simples, como abotoar uma camisa;
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Rigidez muscular – sensação de corpo “duro”, com resistência aos movimentos;
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Instabilidade postural – perda de equilíbrio, quedas e marcha mais curta.
Além desses sintomas motores, muitos pacientes apresentam alterações não motoras, como:
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Distúrbios do sono;
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Depressão e ansiedade;
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Constipação intestinal;
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Redução do olfato;
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Alterações cognitivas em fases mais avançadas.
Critérios Diagnósticos
O diagnóstico é clínico, feito por neurologista experiente, com base nos sintomas e exame físico.
Não há um exame laboratorial que confirme a doença, mas ressonância magnética e outros testes podem ser usados para excluir outras causas.
A boa resposta à medicação dopaminérgica, especialmente à levodopa, é um forte indicativo de Parkinson verdadeiro (doença de Parkinson idiopática).
Tratamento clínico
O tratamento medicamentoso busca repor ou mimetizar a dopamina:
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Levodopa (com carbidopa ou benserazida) continua sendo a droga mais eficaz;
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Agonistas dopaminérgicos (como pramipexol e ropinirol) e inibidores da MAO-B (rasagilina, selegilina) podem ser associados conforme a fase da doença;
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Fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional são fundamentais para preservar mobilidade, fala e independência;
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O ajuste correto da dose e do horário é essencial para reduzir flutuações motoras (“liga/desliga”).
Tratamento cirúrgico
Quando o tratamento clínico deixa de controlar adequadamente os sintomas, ou quando os efeitos colaterais dos remédios se tornam limitantes, pode-se indicar o tratamento cirúrgico funcional, também conhecido como estimulação cerebral profunda (Deep Brain Stimulation – DBS).
Modalidades Principais
A técnica mais utilizada é a estimulação elétrica contínua de núcleos profundos do cérebro, especialmente:
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Núcleo subtalâmico (STN)
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Globo pálido interno (GPi)
Pequenos eletrodos são implantados nessas regiões e conectados a um gerador programável, colocado sob a pele do tórax (semelhante a um marca-passo).
O sistema emite impulsos elétricos que modulam a atividade cerebral anormal, reduzindo tremores, rigidez e lentidão.

Ilustração dos eletrodos implantados, seu posicionamento dentro do crânio e o alvo terapêutico marcado em verde (núcleo subtalâmico no caso)
Indicações
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Pacientes com boa resposta inicial à levodopa, mas que desenvolvem flutuações motoras graves ou discinesias(movimentos involuntários);
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Doença há pelo menos 4 a 5 anos de evolução;
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Ausência de demência significativa ou instabilidade clínica grave.
Resultados e Qualidade de Vida
O DBS pode reduzir em 50% a 70% os sintomas motores e permitir redução das doses de medicamentos.
Os benefícios mais evidentes são:
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Menor tremor e rigidez;
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Movimentos mais fluidos;
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Redução das discinesias;
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Melhora do sono, da fala e da autonomia.
O impacto sobre a qualidade de vida é marcante: muitos pacientes voltam a realizar atividades cotidianas, caminhar com segurança e participar mais ativamente da vida social e familiar (veja videos abiaxo)
Estimulador desligado

Estimulador ligado

Avanços recentes
Nos últimos anos, os progressos tecnológicos têm tornado o tratamento cirúrgico ainda mais seguro e preciso:
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Sistemas de estimulação direcionável, que permitem modular regiões específicas do cérebro com menos efeitos adversos;
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Geradores recarregáveis e programáveis remotamente, com maior durabilidade;
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Sistemas de estimulação adaptativa (de “alça-fechada”), que ajusta automaticamente a intensidade conforme a atividade cerebral do paciente.
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Integração com imagens de ressonância intraoperatória e inteligência artificial, aprimorando o posicionamento e programação dos eletrodos;
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Estudos promissores em terapia gênica e células-tronco dopaminérgicas, tanto isoladamente ou em combinação com as terapias mencionadas são altamente promissores (vide publicação de nosso grupo a respeito)
Mensagem Final
A Doença de Parkinson é tratável, e o avanço das terapias médicas e cirúrgicas tem permitido que os pacientes vivam mais e melhor.
O acompanhamento com equipe multidisciplinar — neurologista, neurocirurgião, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e psicólogo — é essencial para ajustar o tratamento às necessidades individuais e garantir o máximo de independência e qualidade de vida.